04/03/2010

Epitáfio

Ela morava numa casa próxima à esquina.
Era uma mulher muito bonita.
Obscurecia seu olhar uma raiva, uma revolta, certa aflição. Ninguém sabia ao certo a causa desse incômodo transmitido pelo olhar dela, que raramente refletia em seus atos.
A vizinhança especulava. Depois de algum tempo, convencionaram que aquele mal era fruto do casamento.
As línguas mais venenosas diziam que apanhava do marido, um moço que não passava de um metro e oitenta de altura, franzino e com cabelos claros.
Como o casal era raramente visto junto nas ruas, a idéia de violência doméstica ganhava certa força nos antros da fofoca.
Foi apenas no prematuro falecimento do marido que a vizinhança viu o véu do mistério cair.
Nas palavras do epitáfio puderam, ao menos todas as mulheres, compreender aquela perturbação transmitida sutilmente pela bela mulher.
“Aqui jaz Apolônio,
Marido fiel, esposo provedor, companheiro inesquecível.
Finalmente duro.”

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